Sem Carteiras e sem Internet: Dinheiro do Futuro Totalmente Anónimo

Porque Usamos Dinheiro?

Dinheiro é dinheiro; noutras palavras, representa forma mais pura dos bens materiais e não apenas um compromisso de conceder bens. Um pagamento sem dinheiro é apenas uma nota promissória que terá de reembolsada em dinheiro.

As transacções em dinheiro não podem ser rastreadas; estas são anónimas e descentralizadas. Não exigem a participação de terceiros e, ao contrário de, por exemplo, uma conta bancária, não podem ser congeladas.

Não requerem nenhum equipamento adicional, já que se realizam através da troca directa de bens por dinheiro. Tais itens podem ser transportados de forma independente e sem o conhecimento de terceiros, mesmo através das fronteiras.

Visto deste modo, o dinheiro tem muitas vantagens. Agora temos que descobrir se na verdade as notas bancárias modernas ainda podem ser chamadas de dinheiro.

A resposta “Sim” parece óbvia. Uma nota bancária é um objecto que usamos para realizar transacções anónimas descentralizadas sem o uso de equipamentos adicionais. Tais transacções não podem ser rastreada se, é claro, estas não forem efectuadas com notas bancárias marcadas. Ao mesmo tempo, é óbvio que as moedas nacionais modernas são baseadas na dívida do país, sendo o principio para a emissão de moeda diferente daquele que funcionava no passado.

 

 

O dinheiro já não é o mesmo que costumava ser.

Depois do “choque Nixon”, quando a convertibilidade internacional directa do dólar americano para o ouro foi cancelada, a natureza da dívida das notas bancárias não desapareceu, a sua emissão ainda se reflecte na responsabilidade dos bancos. Ao mesmo tempo, as notas tornaram-se oficialmente dinheiro: os preços são dados nestas, não em ouro; servem como meio de troca, reserva de valor e moeda no mundo.

Em termos de organização monetária, a economia sem dinheiro não existe. É também uma forma de organização económica a que permite que os registos bancários sejam utilizados como dinheiro. As notas bancarias evoluíram da forma de papel sem valor para o dinheiro que utilizamos hoje em dia; agora é tempo das contas bancárias evoluírem de notas promissórias emitidas pelos bancos e reembolsadas em dinheiro real e eventualmente o papel-moeda será eliminado.

O “choque Nixon” resultou numa mudança fundamental da essência do dinheiro; objectos cujo valor era independente da vontade das autoridades monetárias transformaram-se em coisas cujo valor depende totalmente dessa vontade. A transição para a economia sem numerário também promete uma séria metamorfose e por isso é importante começar a procurar novas alternativas agora mesmo.

Bitcoin – Dinheiro do Futuro?

De acordo com o fundamento da Bitcoin, esta é um sistema de dinheiro electrónico peer-to-peer. Tal como o dinheiro na economia sem numerário, as Bitcoins existem apenas como registos na base de dados electrónica que não estão comprometidos a ser reembolsados. No entanto a economia sem numerário ainda é apenas uma teoria enquanto que a Bitcoin tornou-se realidade há 8 anos.

A principal diferença entre a Bitcoin e as moedas nacionais modernas do ponto de vista económico, não da tecnologia, que não nos permite equiparar um ao outro, não é a sua natureza digital. A descentralização, a falta de status para pagamento legal, a cadeia de bloqueio, o algoritmo de emissão também não são assim tão importantes. O dinheiro privado e descentralizado da cadeia de bloqueio com emissões limitadas permanece como é.

A principal diferença entre a Bitcoin e as moedas nacionais modernas é que esta pode ser utilizada não apenas como dinheiro hoje em dia. A Bitcoin não é um pedaço de papel ou um disco rígido, que não pode ser mais do que um meio de pagamento legal. É um item que é útil porque pode alojar qualquer papel de garantia ou uma ficha que dá acesso à cadeia de bloqueio mais segura do mundo. Provavelmente, as moedas nacionais serão de alguma forma úteis também na economia sem dinheiro, mas, infelizmente, o que vemos é o que recebemos.

Apesar das vantagens acima mencionadas, a Bitcoin ainda não é perfeita. As transacções de Bitcoin podem ser descentralizadas, mas, ao contrário do papel-moeda, elas requerem equipamento adicional para serem processadas. Como numa conta bancária, um endereço Bitcoin pode ser congelado: os mineiros podem concordar em não processar transacções para esse endereço. No entanto, o proprietário do endereço pode tornar-se ele próprio um mineiro, mas mesmo assim os outros mineiros podem concordar em não processar quaisquer transacções a partir daquele endereço. Quanto mais os mineiros estiverem centralizados, mais rápido podem concordar.

Você não tem que se identificar ao abrir um endereço de Bitcoin como tem de fazer se quiser abrir uma conta bancária, mas isto não significa que não haja maneira de identificar qual o endereço que lhe pertence.

A Bitcoin não é anónima.

Não é segredo sabermos que as transacções de Bitcoin não são anónimas. Estas utilizam pseudónimos e são gravadas em cadeias de bloqueio públicas globais, o que permite que serviços como Chainalysis, CoinValidation e Elliptic tornem esse estado de anonimato muito frágil.

Os misturadores de Bitcoin comuns, segundo os criadores do curso “Bitcoin and Cryptocurrency Technologies”, não podem garantir transacções indetectáveis. Este facto não é só referido nas pesquisas académicas, mas também nas notas do blog Blockchain.com:

“Se você quer tornar as suas transacções indetectáveis, Moeda Compartilhada e outras implementações de CoinJoin não serão a sua escolha…”

É claro que uma corrida para implementar meios para que as transacções não sejam detectáveis está a decorrer e soluções como MimbleWimble e Mixcoin podem mudar a situação, mas actualmente as probabilidades são contra o anonimato.

Transacções fora da cadeia como meio de assegurar a privacidade.

As soluções fora da cadeia garantem a privacidade diminuindo nas pistas na cadeia de bloqueio. Por exemplo, a Lighting Network regista apenas transacções que abrem e fecham canais de pagamento. Neste caso, usando um navegador de Blockchain é possível obter informações sobre os endereços nos quais o canal foi aberto, a data de abertura e encerramento do canal e os saldos, inicial e final, em ambos os lados deste, mas não as informações sobre a transacção em si.

Infelizmente, devido ao facto de as transacções da Lighting Network não serem registadas em Blockchain não significa que essas sejam anónimas e indetectáveis. A contrapartida com a qual o canal é aberto tem acesso a todo o histórico de transacções e todas essas estão ligadas aos endereços que abriram o canal. Nem todos os clientes querem que os vendedores saibam informações sobre as suas compras.

Não é necessário abrir um canal de pagamento com todas as pessoas para quem você quer enviar dinheiro. Isso faria você depositar muitas Bitcoins nos diversos canais e pagar muitas taxas; isto não é lucrativo e nem é fácil. É suficiente ter uma rota de canais entre você e o receptor. Por exemplo, o usuário A pode pagar ao usuário C sem abrir um canal se houver uma rota A – B – C; noutras palavras, existe um intermediário B que tem canais com os usuários A e C. É assim que funciona o negócio intermediário na Lighting Network: eles investem Bitcoin em canais de pagamento e lucram com as taxas para cada transacção.

Os intermediários fazem com que a Lighting Network seja mais útil, mas menos privada. Também é possível concentrar e centralizar os fundos na Lighting Network. Os hubs que investem grandes quantidades nos canais de pagamento podem recolher informações sobre os seus clientes e, tal como os mineiros, acordando o bloqueio de determinados endereços a partir de listas negras.

Existem várias soluções anónimas como o Bolt e o TumbleBit sendo estes desenvolvidos para transacções fora da cadeia mas que ainda não foram implementadas.

O que fazer?

A Bitcoin não é anónima. As chamadas moedas criptográficas ‘anónimas’ não são uma opção. O problema não está na probabilidade de um bug no código ou de uma conspiração por parte dos desenvolvedores. O principal risco é que transacções de moedas criptográficas comuns tenham se tornado legais, mas no entanto totalmente anónimas são proibidas, o que poderá levar a uma série de consequências legais e económicas para os seus detentores.

Isso significa que a única opção é uma transacção fora da cadeia numa moeda criptográfica sob um pseudónimo. Quanto menos rasto a transacção deixar na cadeia de bloqueio, maior será a privacidade.

As transacções na Lighting Network deixam menos rastos e são confiáveis, mas a questão intermediária permanece. Além disso, tais transacções requerem ferramentas adicionais e acesso à Internet, o que significa mais rastos.

Parece que a melhor maneira de garantir a privacidade da sua transacção de Bitcoin é não processá-las pela Internet, não ter uma carteira de moeda criptográfica e não usar a Internet de forma alguma. O mais engraçado é que isto é possível.

Chaves Privadas como Dinheiro Anónimo do Futuro.

Não é necessário transferir as Bitcoins para o endereço do destinatário para as enviar para ele. É suficiente dar-lhe a chave privada para aceder ao endereço com as Bitcoins. A chave não é uma nota promissória; é o meio para conseguir o acesso às Bitcoins. A carteira da Bitcoin não armazena as cripto moedas, mas sim as chaves e estas podem ser facilmente enviadas tanto online como offline sem qualquer taxa associada.

A transferência da chave offline não requer nenhuma transacção para abrir/fechar canais de pagamento, equipamento adicional ou acesso à Internet. A transacção é processada através da transferência do item que, particularmente, permite utilizar as Bitcoins ‘limpas’ sem perder a sua clareza. As Bitcoins são chamadas de ‘limpas’ porque o único registo de transacção onde foram usadas é a base de moedas.

Você pode dizer que precisa de acesso à Internet para verificar o saldo da carteira de Bitcoins e a correspondência da chave para o endereço. A resposta é a seguinte:

Primeiro, qualquer gerador de Bitcoins físicos como, por exemplo, a BTCC dificilmente arriscará com sua reputação ou abrirá brechas no seu sistema que possam eventualmente permitir que os seus funcionários roubem. Ainda assim, a BTCC pode usar todas as chaves que tem para seu próprio beneficio e isso é certamente um factor de risco.

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Não há nada de anormal em tal depositar de confiança. Nós nunca verificamos se as notas bancárias modernas cumprem todos os graus de protecção quando as aceitamos nem as moedas de ouro foram verificadas em todos os negócios efectuados na antiguidade. Tanto uma moeda como um lingote de ouro de tamanho padrão eram marcados com o selo de um emissor de confiança e estes foram criados para tornar as trocas mais simples, pois não era necessário verificá-las em cada transacção.

É sempre possível falsificar papel-moeda, moedas de ouro e até mesmo moedas de Bitcoin. Esta é uma batalha interminável que acontece entre emissores justos e falsificadores. A Bitcoin não é protegida por nenhum Estado por isso inspira menos confiança comparando-a com as moedas nacionais. Ao mesmo tempo, qualquer estado pode lutar contra a falsificação de Bitcoin da mesma forma que luta contra qualquer outro tipo de falsificação.

Em segundo lugar, o uso da Internet para verificar o saldo da carteira de Bitcoin e até mesmo a validade da chave privada não é o mesmo que o da utilização da Internet para processar transacções com a Lighting Network. Ao enviar Bitcoins ‘físicos’, você não precisa verificar o código da Lighting Network e a confiança da conexão com a Internet. Além disso, não precisa de uma carteira de Bitcoins, o que é especialmente importante mencionando o apertar dos requisitos KYC para fornecedores de carteira e trocas.

Portanto, o bom e velho dinheiro com todas as suas vantagens não vai morrer no futuro. A Bitcoin é uma espécie de dinheiro digital e a Bitcoin ‘física’ registada como uma chave privada será o dinheiro analógico do futuro.